TRANSGÊNICOS: CONSEQÜENCIAS INCERTAS
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TRANSGÊNICOS | |||||
10 de Dezembro de 2008 | |||||
Transgênicos: conseqüências incertas | |||||
(Fonte: Instituto Ethos, por Neuza Árbocz) | |||||
Os produtores e técnicos rurais há muito tempo manipulam a criação de animais e plantas, fazendo cruzamentos para valorizar determinadas qualidades dos organismos vivos. Isso se chama "melhoramento genético". Com os avanços na ciência genética, cientistas logo se encantaram com a possibilidade de fazer isso de forma, à primeira vista, mais precisa e, principalmente, mais rápida. Pinçando e misturando genes de gente, animais e plantas, começaram a produzir milho que resiste a pesticida, batata protegida contra vírus, arroz que evita diarréia, vaca que produz leite com proteína humana... As experiências parecem não ter limite. Para discutir este tema, o Instituto de Defesa do Consumidor (Idec) reuniu no final de novembro, em São Paulo, especialistas em biosegurança que fazem um alerta à sociedade brasileira. Não há estudos suficientes para indicar que a manipulação genética de organismos vivos seja segura para o consumo humano e para a natureza. O professor Rubens Onofre Nodari, da Universidade Federal de Santa Catarina, diz que as conseqüências a longo prazo do consumo dos transgênicos são incertas. Assim, como o seu efeito na natureza. "A diferença de uma vaca louca para uma sadia é apenas uma mudança na estrutura de uma mesma proteína", aponta o cientista. "Quando se mistura um gene em uma célula não há certeza de como será sua replicação daí para frente", alerta o professor. Michael Hansen, PhD. em biotecnologia e integrante da Consumers Union, é outra voz que aponta a necessidade de estudos científicos mais aprofundados e de longo prazo sobre organismos geneticamente modificados (OGMs) e desaprova sua utilização em escala comercial. Erros graves Os dois cientistas apontam erros graves nos estudos usados para autorizar produtos transgênicos na alimentação humana. Hansen afirma que tais estudos foram planejados para minimizar possíveis conseqüências, utilizando prazos muito curtos, animais adultos e de pesos diferentes e um número insuficiente de repetições. Um dado que tranqüiliza produtores de transgênicos é o aval da agência norte-americana Food and Drug Administration (FDA). Contudo, o professor Hansen esclarece: "A FDA não realizou um único estudo próprio sobre os transgênicos. O que ela fez foi declarar que, baseada nos estudos das indústrias produtoras dos OGMs, não encontrou questões com que se preocupar". Já Nodari lembra também o alto grau de diferenças obtidas nas poucas repetições realizadas. E chama a atenção para o fato de não haver estudos mais específicos, como, por exemplo, experiências verificando apenas a parte tóxica dos transgênicos desenhados para resistir a agrotóxicos. A interação com o solo e o ambiente à volta de plantações transgênicas também não foram investigados. "Já se observou na prática que milho, batata, algodão, cebola e outras plantas geneticamente modificadas para portar o Bacillus thuringiensis (Bt, que resiste ao pesticida Round Up) destroem outros fungos benéficos ao solo", alerta o professor catarinense. Decisão política Michael Hansen e Rubens Nodari se reuniram com outros especialistas em biossegurança em um workshop realizado pelo Instituto de Defesa do Consumidor (Idec). Segundo suas exposições, a liberação dos transgênicos está mais ligada a decisão política do que a critério científico. "Ela se baseia em pressuposições simplistas e subjetivas a respeito da estrutura dos ecossistemas e do fluxo de matéria e energia", resume Nodari. "O Brasil exerceu forte influência na decisão de outros países, principalmente europeus, em restringir o cultivo de OGMs", observou Hansen, ao lembrar a vitória, no país, da ação civil pública, em 2000, impondo que os OGMs deveriam passar por estudos de avaliação de riscos ambientais e à saúde antes de ser comercializados. Na prática, isso manteve os transgênicos afastados da agricultura brasileira até 2005, com algumas exceções apoiadas em medidas judiciais a partir de 2003. Assim, até 2006 o país havia liberado apenas um tipo de soja e um tipo de algodão transgênicos. "Mas a partir de 2007 tivemos mais cinco tipos de milho e dois de algodão aprovados, embora pesquisas apontem que mais de 70% dos consumidores rejeitem seu consumo", salienta Andrea Salazar, do Idec. Esses consumidores agora se fiam na rotulagem obrigatória para fazer suas escolhas. A legislação brasileira exige a identificação com um "T" na embalagem de todo alimento com mais de 1% de transgênicos em sua composição. Esta norma vale também para carnes de animais alimentados com OGMs. | |||||
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